Mas a faceta mais conhecida do Forma seria talvez as brincadeiras carnavalescas que organizava por altura desta quadra, principalmente o "enterro do Carnaval" que lhe valeu em determinada altura uma noite na "choldra", por se ter atrevido a travestir-se de Padre, para "encomendar " as rezas por alma do defunto Carnaval. Era perigoso na altura brincar com o Clero.
É a esta personagem que hoje segundo dia de Carnaval, o nosso colaborador António Berbem dedica o seu já habitual espaço «ORELHUDOS DO CARAÇAS»
Chico Manuel
“Facetas do Forma das Caraças”
1 Já perguntaram
para o Al tejo e até aqui para Os Orelhudos afinal quem foi, quando foi, e como
era esse tal “Forma das Caraças” e se o Oráculo ainda existe na Tapada? Ou pelo
menos parte dos seus históricos vestígios?
Vamos já dar uma resposta, dividindo o seu retrato em
duas partes. Na I parte, trataremos do seu “ar exterior”. E na II parte
invocaremos o “seus dons interiores” envoltos em muitos mistérios. Para
crianças e graúdos.
Claro que o Oráculo ainda existe. Espiritualmente é,
aliás, um dos lugares mais antigos, mitificado e invocado do Alandroal.
I Parte
Era assim: uma figura e um tipo mais alto do que baixo. Era mais magro do que
gordo. Era algo franzino sem ser um franganote. Era do Benfica. Morava na rua
principal. Mas trabalhava em Santo António. Falava com finura e baixo. Nunca
pelos cotovelos. Raramente fazia asneiras tanto mais que não se casou. Bebia
não se embubedava. Não discutia, debatia. Fumava por vezes definitivos provisoriamente.
II Parte
Adorava o Carnaval. Era brincalhão. Era um
imaginativo. Era um criativo. Era em suma, “um democrata conformista. Um bom
candidato para a Assembleia Municipal…tal como está.
Aos domingos enfatiava-se. Durante a semana asseava-se
e escanhoava-se. Era trabalhador. Não era incansável. Não ía à missa. Não
jogava à bola. Não era faltoso. Era acima de tudo um habilidoso profissional em
Oficina de Ferreiro (M. Luís). Era um artista. Metia a cabeça onde metia as
mãos.
Era com toda a certeza MUITO HOMEM!
Era uma Estrela no planeta do Alandroal. Apenas não
era bonito e tinha um nariz assaz curto e de, alto a baixo, quase espalmado.
Para ser mais exacto, era assim mais para o feiote.
Em conclusão: do “Forma das Caraças” ficou-nos uma
herança tanto mais forte quanto o tempo longo vai passando. Tinha muito valor e
tinha vários valores inamovíveis que o guiavam. No Alandroal conheciam-no bem.
E por bem.
Mexia-se a partir do seu lugar na vida e das suas
várias formas de estar na vida com uma orientação que, dava à sua vida, uma
qualidade bastante superior.
Percorrendo a partir do seu sagrado “Oráculo das
Caraças” um caminho que, para mim, constitui, ainda hoje um grande enigma para
aprendizes e seus companheiros.
Era, no fundo, mais um assombroso homem deste grande
Alandroal! Peça humana de grande valia. Uma potência humana não finalizável.
Como ele próprio supôs e desejaria!
GOSTAVA-SE DELE e estou agora mesmo a lembrar-me que
para adensar os seus mistérios, à noite, vestia-se em pele branca, alvíssima,
imaculada e lá seguia, Tapada abaixo, acompanhado de uma lanterna brilhante,
banhada a prata, dando sempre, à sua volta, mais luz à escuridão dos seus
tempos com grandes e entusiasmantes pontos de luz. Naqueles tempos antigos e sempre habituais na Vila.
Muito provavelmente ainda haverá fragmentos da sua
vida espalhados por aquela sua tão estimada,endeusada e bem-amada Tapada.
Escolham pois e precisamente nesta quadra carnavalesca
a faceta do “Forma das Caraças” que mais vos agradar e corresponder aos vossos
desejos. Sigam-no. Imitem-no.
Podem ter a seguir uma ou mais iluminações nas vossas vidas.
Satíricas, burlescas, engenhosas. Ou, simplesmente, brincalhonas e carnavalescas.
Se possível, com muita música. Porque o “Forma das Caraças” também foi um bom músico.Embora
não me lembre o instrumento que tocava.
Podem ajudar?
Melhores
saudações
António Neves Berbem
(16/02/2015
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