Terça, 20 Janeiro 2015 09:54
Ser-se VIP significa
ser-se uma pessoa muito importante, e vem do inglês “Very Important Person”.
Esta palavra geralmente refere-se a
pessoas que têm alguns privilégios que não são concedidos a todos, só aos muito
importantes. Foi uma sigla que se tornou termo e que apareceu a meio do
século passado. Aplica-se sobretudo a celebridades da música, autores famosos,
grandes desportistas, personalidades das artes, especialmente as que chegam às
multidões, como os atores e as atrizes de renome internacional. As celebridades
podem ser também os chefes de Estado, os chefes de governo, os empresários de
grandes grupos, os políticos com grande destaque na imprensa e pessoas de
grandes fortunas que se sobressaem dos outros. Por vezes esses VIP têm a maçada
de ser vítimas dos haters. Haters é uma palavra
de origem inglesa e que significa "os que odeiam" ou
"odiadores" na tradução literal para português. Mas sobre estes
hoje não direi nada.
Cheguei ao VIP pela
recente notícia que circulou dando a conhecer a muito interessante carta enviada
há 50 anos por Jean Paul Sartre, filósofo e escritor francês bem conhecido nem
que seja de nome, ao então Secretário da Academia Sueca responsável pela
atribuição do prémio mais VIP do mundo, o Nobel. Uma carta que não terá chegado
a tempo, pois não teve efeito o seu pedido e o Nobel lá lhe foi atribuído três
dias depois e, como anunciado, recusado. Sartre fê-lo por razões também da sua
ideologia política, sendo um tardio mas firme defensor dos regimes comunistas e
consciente de que os prémios como aquele tornam os premiados em instituições.
Uma honra, é certo, que ele reconhece, mas que o faria ou alinhar-se pela
ideologia sueca da Fundação do Nobel ou vice-versa. Terá dito e cito: «as
minhas simpatias pelos revolucionários venezuelanos implicam-me a mim, enquanto
se Jean-Paul Sartre, o laureado, apoia a resistência venezuelana implica todo o
Prémio Nobel como instituição.» E foi assim que de entre os 76 autores listados
nesse ano, o escolhido recusou.
Mas não foi caso
único, já que houve mais VIP’s neste mundo que acabaram por não receber o
Prémio que quer gostemos ou não, do prémio ou do premiado, acaba por tornar
mundialmente confirmado esse estatuto VIP. Em 1973 o fundador do Partido
Comunista da Indochina recusou-o por lhe ter sido atribuídoex-aequo com
o norte-americano Henry Kissinger, premiando as negociações pela paz entre os
dois países, mas como ainda estariam sem efeito à altura do prémio, o político
comunista não o quis receber. Curiosamente, ou talvez não, Hitler impediu três
laureados da química e da medicina de receberem os respetivos prémios, em 1938
e 39, assim como as autoridades da União Soviética, em 1958, impediram Boris
Pasternak de aceitar o Nobel da literatura.
O certo é que Sartre
não deixou de ser Sartre por ter recusado o Nobel e rejeitou, por motivos
pessoais e em coerência alinhado com outros de ideologia idêntica, vestir uma
pele que não era a que queria para ele. Não menosprezou os que o receberam,
antes pelo contrário. Mas parece-me que esta justificação que conhecemos agora,
findo o segredo de 50 anos, nos mostra o quão VIP se pode ser recusando sê-lo.
Afinal, duas formas de fazer valer um estatuto de que se gosta e permanecer,
com ou sem prémio, sob os holofotes da opinião pública. É que os VIP’s também
se alimentam de palmas.
Cláudia Sousa Pereira
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