segunda-feira, 28 de julho de 2014

PANO CRU - Rubrica de A.N.B.

i).
De uma forma crua, vamos dizer que temos a impressão como alguém já o afirmou  que,  “o mundo actual” anda a produzir bastante mais história do que aquela que pode consumir, encaixar e vir a compreender.
Anda a produzir e a acelerá-la de uma tal maneira que, mais cedo ou mais tarde, pode tornar-se incontrolável. Se repararem bem, no Médio Oriente e arredores da Crimeia, nos últimos tempos, houve um série de estados que se fragmentaram e estão em desagregação, tornando a situação internacional muito perigosa e imprevisível.
Já repararam que são mais as milícias e os grupos bem armados do que o número de estados (e exércitos) soberanos realmente existentes? Estão a ver a mancha de violência crescente com que estamos confrontados?
Prova-o ou não, mais esta ofensiva de Israel na Faixa de Gaza onde já é muito difícil distinguir o que é a guerra da carnificina? Onde nenhuma trégua da Cruz Vermelha, é respeitada. Onde as escolas e os hospitais são destruídos. E onde, entretanto, podemos reparar que mais de 80% das vitimas palestinianas são civis indefesos. Mas, o grupo que tem sido mais atingido são as crianças.
Se isto não é um ataque desproporcionado, então, o que será? Admitindo que os dois estados têm legitimidade politica para garantir a sua existência, será pela via da sua destruição mútua…e de um ódio cego que tal virá alguma vez a ser possível e conseguido?
Tal como foi visto nos telejornais, várias vezes, repararam naquela criança, com uns seis ou sete anos, que  estava a atirar pedras a um tanque israelita?...
Podemos prever o que isto significa,  para além do facto incontornável daquela mesma criança, só estar à espera de crescer um pouco mais para a seguir, pegar em armas e prolongar por mais umas  gerações um conflito histórico, descontrolado e cada vez mais violento?...
Mudemos o pano.
ii).
O Al tejo é um bom exemplo e testemunha atenta, à escala local e regional, do que vamos aqui sucintamente afirmar: estamos a assistir ao aparecimento de novas formas de produção informativa individual que se expande a uma velocidade, nunca vista, com o recurso a ferramentas digitais e plataformas de comunicação disponíveis em múltiplas redes sociais.
Isto altera e dará assim origem a  uma nova “democracia participativa” um caminho já aberto, em Portugal, e que começou a ser abertamente protagonizado pelo Partido Socialista, independentemente dos objectivos específicos e  da vontade politica própria dos dois principais protagonistas.
Diria, pois, que esta crise no PS, é também um reflexo da Internet e da aceitação de que, no mundo, muita coisa está e vai mudar: há novos contratos de comunicação e instrumentos de acção politica que estão  em desenvolvimento. As “primárias” são um deles.
Neste sentido poderia acrescentar que as “primárias” do PS vão encetar um novo tipo de contrato politico, entre o PS e os cidadãos, transferindo e abrindo o poder das estruturas partidárias à sociedade civil.
Se isto não é romper com certos “vícios partidocráticos” e fazer uma aproximação à democracia directa e pro-activa, pergunto eu, então, o que será? Do que estão à espera os outros partidos do sistema politico? De um afastamento e desligação crescente  da  sociedade?
Dir-me-ão alguns que isto também é uma luta de facções, e da luta interna pelo poder no PS, uma área onde, aliás, nenhum partido “está virgem” nos seus percursos histórico-políticos.
Como é evidente, não estou em condições de o ignorar completamente, mas também posso garantir que tenciono escolher o candidato que seja mais capaz de reflectir as aspirações urgentes da massa eleitoral que, através “destas primárias” se vier a constituir numa base social de apoio politico, o mais consistente e abrangente possível.  
De acordo com os interesses superiores do país visíveis na U. Europeia e, particularmente, na estratégica CPLP.
 Assim sendo, prefiro colocar aqui estas reflexões, em pano cru, até porque este posicionamento politico, para além de dizer respeito à  esquerda em geral, da mais à menos radical, diz sobretudo respeito  à vida do país e às facturas sociais que vai apresentando, cada vez mais  difíceis de resolver.
Em Portugal, como de resto em todas as partes do Mundo, o pano cru, do fechamento absoluto em “conchas eleitorais ” autossuficientes, a par da falta de abertura real aos processos ideológicos participativos, pagam-se sempre muito caro.
Não foi por causa disto que, no século XX, caíram em catadupa, os dois impérios alemães, o russo, o  austríaco, o otomano e os impérios coloniais europeus, incluindo o português e houve revoluções sociais por todos os continentes?...      
Não será isto o que a História já anda, por toda a parte, a avisar -nos?
  Melhores saudações
   António Neves Berbém

      ( 28/7/2014)

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