Relembramos que todas as personagens referidas nesta história são inventadas pelo Autor. Como tal qualquer semelhança com pessoas da vida real são pura coincidência.
Plínio, o Borboleta
O funeral
- Decorria o mês Fevereiro, com fortes e frias chuvadas. Tive a
sensação que algo diferente e anormal se iria passar comigo. Parecia que o
mundo me caía em cima, toda a gente me apontava o dedo “foi ele” “foi ele que a
matou”.
Mas há sempre alguém, há sempre uma alma que nos compreende, que
nos estende a mão, um benfeitor que nos ajuda.
- E quem foi esse alguém, Plínio? como te ajudou? - perguntei-lhe com o
intuito de o fazer sair um pouco
do seu estado melancólico.
- Foi o meu avô. Levou-me alimentos
ao quarto, de onde só saí no dia do funeral. Consolou-me dizendo “violaste
o tempo do respeito,
não por roubares ou por ser mal-educado ou dizeres mal das pessoas, foi por
amor, pelo amor de uma flor ainda em botão, que no dia em desabrochou, morreu.
Nunca serás condenado pelos homens de boa vontade”.
- A vossa
história é a mais linda história que ouvi contar, é comovente, acredita que um
dia a tentarei escrever, - Plínio
levantou a cabeça, o seu rosto alegrou-se um pouco, sorriu de mansinho. Um
sorriso de quem é compreendido, um sorriso de gratidão. E continuou.
- Fui cedo para o
cemitério para assistir ao funeral. Meti-me dentro de uma cova e tapei-me com
um pano preto. Pareceu-me ter morrido por momentos, ser condenado por um sem
fim de mãos. Naquele mar ameaçador e tumultuoso de acusações, emerge a mão
salvadora, benfazeja, triunfante. “vem neto, tenho um esconderijo melhor do
esse, o meu capote, ele te abrigará e te
conduzirá ao caixão da tua amada” e
assim sucedeu.
Quando abriram o caixão, precipitei-me e dei dois beijos na Maria
Pulquéria, ao mesmo tempo que o meu avô gritava “revive Maria, revive” e a multidão
insensata, incapaz de nos compreender, respondia “matam-se, matam-se”.
O capote do meu avô pairou pelos ares, abriu caminho por entre a
multidão, enfurecida e fugimos.
Não sei se corri se voei, e sem querer, vi-me na ponte velha
observando a água que corria impetuosa, parecendo procurar alguém.
Num barulho aterrador que parecia a queda de um corpo nas
profundezas da terra, ouvi a voz da Maria Pulquéria dizer “salta Borboleta, salta”.
Levantei a vista e vi uma borboleta multicolor esvoaçar sobre a
minha cabeça, tocou-me na cara parecendo beijar-me. Ao tentar agarrá-la caí à
água.
- E morreste, - perguntei.
- Morri, - respondeu e continuou.
- Hoje dia 18-09-2012, às 2 horas da manhã partilhando este
imaginário consigo, já duvido que esteja morto.
- Por favor Plínio, há pouco foi eu que estava confuso agora és tu
que te estás a confundir. Tu estás morto. Os cento e cinquenta anos que nos
separam não impediram esta conversa de comunhão e compreensão imaginativa,
mostrando ao mundo, que o amor é o mais belo sentimento de ligação humana, mas
começo a sentir cansado, por favor Plínio, deixa-me descansar um pouco,
deixa-me abrir os olhos, - pedi-lhe suplicando.
Senti um forte abraço, senti o coração do Plínio a bater forte,
senti o calor do seu corpo.
Ao contar a sua história Plínio reviveu.
Quando abri os olhos, mas ainda mal vendo e mal refeito das
emoções, vi uma borboleta esvoaçar e sumir-se no horizonte, como o fumo de
sobro a arder.
Já com vista clareada vi, em cima da minha secretária, o texto que
vós estais a acabar de ler. A tragédia da Maria Pulquéria.
Helder Salgado
18-09-2012
(Pode lêr a História completa no http://alsul.blogspot.pt/
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