UM OSSO DE CADA VEZ (Rubrica semanal do AnB)

  “ É recessão quando o vizinho perde o emprego; é  

           Depressão quando nós perdemos o emprego”

              Harry Truman   (d.n)

I. OSSO

É conhecido historicamente que a grande imprensa escrita em Portugal, poucas vezes exerceu o seu poder de distanciamento e de critica directa aos governos. Foi assim durante o Estado Novo. Mais coisa menos coisa, é o que vem acontecendo com esta Democracia dita liberal. A subserviência jornalística é dominante. Há muitos bujardinos a tocar o hino!

O caso do Expresso (pós 74) e do Diário de Notícias são exemplos flagrantes desta promiscuidade e de mau jornalismo alinhando demasiadas vezes com os interesses e posições governamentais. Vide o caso recente de M. Relvas/ERC onde a Liberdade de expressão e de imprensa se evaporou.

Claro que, em períodos de campanhas eleitorais, o cenário ainda é pior uma vez que a imprensa portuguesa tem o péssimo hábito de disfarçar e sonegar as suas escolhas e opções politicas. Ao contrário do que é praticado nos USA, Inglaterra, França com os principais jornais.

Vejam agora o caso desta notícia de primeira capa do Expresso de 23/6 que apareceu assim:

“Os portugueses começaram a poupar na alimentação (…).” Dito deste modo, lançamos uma pergunta: “Poupar na alimentação” não é o mesmo que passar a comer de menos e começar a ter fome?... O Expresso quer iludir-nos com o Verbo e não consegue fazer um papel melhor? E nas televisões como é? Será que os eufemismos usados são ainda mais mistificadores?...

II.

O mesmo vem acontecendo com a divulgação das notícias sobre os que passaram a trabalhar a troco apenas de comida. Ou sobre o Desemprego imparável.

Segundo o INE, o índice oficial do desemprego já ultrapassou o drama dos 15% mas o número real de Desempregados já vai em mais de UM Milhão e trezentos mil. Mais grave do que este número, já de si terrível, é que somente uma terço dos desempregados receberá efectivamente o subsídio de desemprego e por prazos cada vez mais curtos.

Os outros que se lixem e entrem em depressão, não é?...

A questão é portanto esta: já viram o Expresso ou o D.N. assumir e denunciar os números reais com a frontalidade e a premência social que a situação de grave injustiça na sociedade portuguesa exige?

INTERNACIONAL

III.

Alguém aqui no Al Tejo já elogiou a coragem e os tomates dos vizinhos Mineiros do carvão das Astúrias, Leão e Aragão. Estamos obviamente de acordo porque está em perigo o trabalho e a subsistência de mais de 40.000 pessoas.

Para além de todas as explicações económicas que possam existir sobre os cortes das ajudas do governo e sobre a Marcha Negra dos mineiros até Madrid uma coisa é certa: o fecho das minas espanholas tem como objectivo favorecer a Alemanha na exploração (a céu aberto) e venda do seu carvão.

Dito assim, pergunta-se, será que o fantasma e os interesses alemães vão liquidar a exploração das minas espanholas ignorando que o programa mineiro de Espanha financiado apenas em parte pela U.E., estava em curso até 2018?

IV.

As ONG, Organizações Não Governamentais como a Amnistia Internacional ou a GReenpeace, são instrumentos bastante activos das Relações Internacionais com um papel crescente em áreas que dizem directamente respeito à vida dos Povos.

São mais ágeis, criativas e muito menos burocratizadas do que os Estados. De tal maneira o são que, muitas vezes, fazem o que os Estados não são capazes de fazer particularmente nas áreas do Ambiente, do Desenvolvimento Sustentável e dos Direitos Humanos.

Reparem agora que esta última Conferência do Rio+20 se compôs de duas Cimeiras. Portugal marcou presença tal como na Cimeira de Copenhaga, 2009.

De um lado, realizou-se a cúpula dos Chefes de Estado e de governo organizada pelas Nações Unidas que, como é norma internacional, vai encaminhar os assuntos abordados na Cimeira para as discussões técnicas e negociações diplomáticas bastante lentas e pouco produtivas.

Mas, do outro lado, estiveram as ONG onde os índios, aliás, foram as estrelas. Foi precisamente aqui nesta chamada “Cúpula dos Povos” que apareceram ideias novas e os projectos mais inovadores bem como os debates, por exemplo, em torno do “comércio justo” visando a criação de um mundo alternativo e mais regulado.

Querem mais? Não acham que é tempo da ONU criar uma “Agência para o Ambiente” à semelhança da UNESCO criada para a Educação e Cultura?

LOCAL

V.

Se há umas coisas que agradam e outras que continuam a desa- gradar enquanto somos (d)a vila do Alandroal, o certo é que há também quem nos veja e repare com um ar de surpresa e de desencanto em certos casos tais como:

(a)   o mastodonte intragável do Jardim das Meninas;

(b)   o excesso de casas em acesa ruína;

(c)   a cerveja sem álcool…e a água-pé, buídas irmãs, vêm servindo-nos de algum consolo?

(d)   a falta de música no elevador da Torre do Relógio é perpétua?

(e)   o défice de auto estima dos portugueses alandroalenses;

(f)     o problema de haver mais televisões com cabo do que autoclismos;

(g)   os rebuçados sem açúcar relacionam-se com o seco desatino das fontes sem pinga de água sendo para continuar assim?

(h)   os presságios da Sibila (Agustina) contra os enredos da Corja (Camilo) a favor do Crime e Castigo (F.D.) de  amargar a Vindima (M.T.) ouvindo A Voz dos Deuses são títulos de livros, e tudo o mais, que estão disponíveis nas prateleiras da  Biblioteca Municipal?

Os casos ficam por aqui. Antes que comecem a pensar que uma lista mais longa pode aparecer e, como nem tudo está mal, o caminho só se faz aplicando, desde já, as boas soluções.

A nossa história local tem de guiar-se por linhas de abertura criadoras e valores positivos. O Concelho do Alandroal não é incompatível com os diversos riscos e as ameaças bastante negativas que vai enfrentar neste início de década, ano doze; (cuidado, o Gaspar já deu Passos para nova dose de austeridade).

Assim seja!

                                Ps: sonho meu, sonho meu, o europeu

                                                   e o euro também já ardeu!

AnB                                                                            (29/6/2012)