sexta-feira, 29 de junho de 2012

CRÓNICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA PELA RÁDIO DIANA/FM

Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/





Sexta, 29 Junho 2012 10:42
Assisti, esta semana, a um debate muito interessante num dos canais portugueses de televisão. Daquele tipo de debates em que os intervenientes não estão a pensar nos votos nem na popularidade que possam ter ou vir a ter, mas em que se nota que há pensamento e que, independentemente das conclusões serem ou não simpáticas, elas são por eles ditas e por eles defendidas.
Neste debate, vários foram os assuntos abordados. Vou destacar dois deles, porque correspondem àquilo que penso e porque julgo ser oportuno voltar a eles, agora que o Governo concluiu um ano em funções. Os dois assuntos que vou tratar estão directamente relacionados com a situação financeira do país e com a forma como o Governo a tem abordado e são, por um lado, as escolhas que o Governo tem a obrigação de fazer e, por outro, a necessidade dramaticamente imperiosa de haver investimento em Portugal.
Quanto às escolhas do Governo, e apesar do que a oposição tem dito relativamente ao modelo ideológico seguido pelo Governo, a verdade é que em matéria de austeridade e de cortes, o Governo não tem feito ou, pelo menos, não tem sabido explicar as escolhas que eventualmente possa ter feito. Isto é, não se tem percebido se o Governo tem feito realmente escolhas ou se, pelo contrário, tem abordado os cortes financeiros não distinguindo o trigo do joio. Por exemplo, quando o Governo corta verbas para universidades, corta a todas por igual ou já fez escolhas? Quando o Governo corta verbas para hospitais, corta a todos por igual ou já fez escolhas? É das escolhas legítimas que estou a falar e, sobre estas, é obrigação do Governo fazê-las! Acresce que tratar tudo por igual nunca deu bom resultado. Ajudar uma universidade, um hospital, uma empresa, que está mal, mas que não está muito mal, pode ser melhor do que ajudar uma universidade, um hospital ou uma empresa que está muito mal e cuja recuperação é impossível. É por isso que nem os cortes devem ser cegos nem as ajudas desperdiçadas.
No entanto, o que parece é que o Governo está a cortar a todos por igual sem que tenha feito qualquer escolha prévia. Não sejamos contudo definitivos: admito que possa ter havido escolhas e que ou não possam ser agora concretizadas ou não tenham sido explicadas. A questão é que mesmo não podendo ser agora concretizadas, elas, a terem sido feitas, já deveriam estar a ser explicadas. O país ganharia em saber qual a orientação que o Governo quer seguir, até para que possa ser discutido abertamente o modelo de país que teremos, ou melhor, o modelo de país que gostaríamos de ter passada a fase da austeridade.
Outro assunto não menos importante e que entronca naquele que acabo de abordar, tem a ver com o investimento ... ou com a falta dele! Cada vez mais se ouve falar da necessidade de crescimento e da necessidade de serem criados empregos. Mas encher a boca com crescimento e emprego, sem explicar como se põe a economia a crescer ou como se criam empregos, não serve de nada. Para haver crescimento económico e para haver criação de emprego, a chave é evidentemente o investimento. Portanto, o que seria nesta altura muito importante era que o Governo explicasse, explicasse aos portugueses e aos potenciais investidores, como pretende o Governo criar condições para que exista investimento em Portugal. Investimento estrangeiro e investimento nacional. E, já agora, quais são, claro, essas condições. Também aqui admito que o Governo possa já ter escolhas feitas e estar já a criar essas condições. Mas, se assim é, então, também aqui, o Governo deve explicar aos portugueses o que anda a fazer.
Em conclusão, é, pois, tempo de o Governo explicar aos portugueses que país quer ou, dito de outro modo, que Portugal quer, afinal, para os portugueses.
Martim Borges de Freitas
Torres Novas, 28 de Junho de 2012

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