quinta-feira, 14 de outubro de 2010

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Eduardo Luciano - As lutas, os silêncios e o amor à escola pública


Quinta, 14 Outubro 2010 11:36
Anunciada pela CGTP, a Greve Geral de 24 de Novembro começou a fazer seu caminho junto dos trabalhadores.
A ideia de um protesto generalizado contra as medidas que penalizam o rendimento do trabalho, a diminuição das prestações sociais aos mais carenciados, o aumento do tal imposto cego sobre o consumo, os cortes salariais aos trabalhadores da função pública, o aumento da prestação para a Caixa Geral de Aposentações, tem vindo a ganhar simpatia mesmo junto daqueles que habitualmente não se mobilizam em torno de objectivos mais gerais.
Desta vez, a própria UGT não teve outra solução que não fosse acompanhar a CGTP na convocatória de uma Greve Geral e todos dias vamos tendo notícia de sindicatos que anunciam a sua adesão a um dia que promete ser histórico.
Obviamente que perante este crescendo de entusiasmo na mobilização, o centrão da política e o centrão dos interesses vieram imediatamente ocupar o espaço mediático com analistas, comentadores, reformados da política, dirigentes de associações patronais numa tentativa de demonstrar que a luta dos trabalhadores não só não resolve nada, como até pode ser contrária aos seus interesses.
Os argumentos passam pelo decretar inutilidade de uma acção de luta perante medidas que são inevitáveis. Temos apoiantes do governo e críticos à direita do governo a afinarem pelo mesmo diapasão, com a pequena diferença de estes entenderem que as medidas deveriam ainda ser mais duras e deveriam ter sido aplicadas mais cedo.
Um dirigente de uma associação patronal afirmou que a Greve não serviria para nada, porque no dia seguinte tudo estaria igual.
O ministro das finanças afirmou que nada demoveria o governo da aplicação das medidas.
Soares atirou-se às manifestações e greves como sendo coisas perfeitamente ineficazes, porque o governo não tinha dinheiro para satisfazer reivindicações. Longe vão os tempos em que defendia o direito à indignação contra as políticas do cavaquismo.
Se perdermos tempo a ouvir os analistas económicos (os tais que acertam sempre nas previsões depois dos acontecimentos) então a coisa ainda consegue piorar. Diminuem as nuances de linguagem e parecem um coro de uma qualquer igreja. Ninguém desafina.
Faz também parte desta estratégia o silenciar das lutas sociais que estão em curso por essa Europa fora, pretendendo dar a ideia que estas coisas de manifestações e greves só acontecem no nosso país e muito por culpa de uma centra sindical que não é nada compreensiva perante os problemas do país.
Veja-se o tratamento noticioso dado à Greve Geral em França, acompanhada de gigantescas manifestações de rua, contra o aumento da idade de reforma.
Parecendo que não, este alinhar de posições é também uma medida do sucesso de mobilização que a Greve Geral promete obter.
Até ao dia 24 de Novembro, esta ofensiva mediática irá acentuar-se, com a entrada em cena da manipulação mais grosseira, pretendendo dividir os trabalhadores entre quem tem emprego e quem não tem, quem trabalha na administração pública e no sector privado, quem ganha mais e quem ganha menos de 1500 euros.
Suspeito que perto desse dia um manto de silêncio se abata sobre essa matéria, como se nada se fosse passar.
Pela dimensão das adesões, pelo alargar dos apoios, pela indignação geral que se sente nas ruas, quer-me parecer que, desta vez, essa barragem de fogo será insuficiente para evitar o provável êxito da Greve Geral.
Apenas um comentário sobre as declarações de amor eterno à escola pública, proferidas pelo deputado do PS eleito no círculo de Évora.
Finalmente percebemos as razões do encerramento de tantas escolas do ensino básico no nosso país. É mesmo por amor à escola pública. Fechadas não se gastam nem se estragam.
Até para a semana
Eduardo Luciano

2 comentários:

Anónimo disse...

Havemos d elevar de vencida esta corja toda Greve geral já

Anónimo disse...

E os que aproveitam as greves para irem às compras aos Colombos, Vascos da Gama, etc etc? E os que só vão lá para a paródia, para comerem umas sandes, beberem uns garrafões de vinho e passearem?

Os sindicatos são outra corja, que vive à custa de outra.