Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/
Martim Borges de Freitas - Um País Adiado
23-out-2009
Três meses e duas eleições depois da última crónica que tive oportunidade de aqui dizer, saúdo todos os ouvintes da Rádio Diana. E recomeço por recordar aquela que foi a minha primeira crónica deste ano de 2009 e que pretendia enaltecer o humor, o bom humor que se faz em Portugal. Nem de propósito, o grande facto político da grande ronda eleitoral de 2009 foi, justamente, um programa humorístico e o grande facto humorístico desse programa foi o de que os seus convidados foram só políticos. Sem ironias, estou, de facto, cada vez mais convencido de que há uma grande relação entre o humor e a política...
Dito isto, disse o que atrás disse, apenas porque no fundo, no fundo, do que os ouvintes que fazem o favor de me ouvir estavam à espera era que eu, pela minha parte, viesse hoje aqui esmiuçar as vitórias e as derrotas de cada um em cada um destes dois últimos actos eleitorais. Não vou defraudar as expectativas, vamos, então, a isso. Comecemos pelas Legislativas, em que, aritmeticamente falando, para além do partido que as ganhou, todos os outros quatro saíram vitoriosos. Da esquerda para a direita, a CDU, ganhou votos, ganhou um deputado, mas foi relegada para quinta força política. Ganhou aritmeticamente, perdeu politicamente. É irrelevante para uma maioria parlamentar. Tendo ganho aritmeticamente, é a Jerónimo de Sousa que ainda deve este resultado. Quanto ao Bloco de Esquerda, foi o partido que mais cresceu em votos, tendo duplicado o número de mandatos. Aritmeticamente, cresceu e cresceu bastante; politicamente, ficou aquém das expectativas. Louçã, pela primeira vez, mostrou fragilidades, tendo prevalecido a leitura de que foi por sua causa, num certo debate, que o Bloco de Esquerda não foi mais longe, não tendo assim conseguido o número de deputados necessários para, com o PS, poder formar uma maioria parlamentar. Não é que a desejasse ou sequer a viesse a formar; é, simplesmente, não ter essa possiblidade. Uma vitória amarga. Quem perdeu votos, muitos, perdeu mandatos, também muitos, mas mesmo assim ganhou as eleições, foi o Partido Socialista. Perdeu aritmeticamente, mas foi o partido vencedor. Tendo perdido a maioria absoluta, foi o partido mais votado. Quem se recorda das eleições europeias de 7 de Junho e do seu resultado e, mais do que isso, dos dias e das semanas que se lhes seguiram, perceberá com facilidade que Sócrates foi um dos grandes vencedores das eleições legislativas. Mais do que o PS, foi ele quem venceu estas eleições. Quanto ao PSD, também ele cresceu aritmeticamente. Em número de votos, poucos, e de mandatos, também poucos. Politicamente, foi o grande derrotado. Não apenas porque teve a faca e o queijo na mão para se ter tornado no grande eixo da mudança – à saída das europeias muitos o vaticinavam - mas porque, por responsabilidade exclusivamente sua, claudicou, ao ter seguido uma estratégia para a campanha eleitoral absolutamente “à côté de la plaque”. Manuela Ferreira Leite e o PSD já estão a pagar as favas. Resta-nos o CDS. Nas Legislativas, o CDS cresceu em toda a linha. Em número de votos, muitos, e em número de mandatos, também muitos. Voltou a ser a terceira força política e alcançou os dois dígitos. Tem o número de mandatos suficientes para poder formar uma maioria parlamentar, o que lhe confere poder. O CDS ganhou aritmética e politicamente. Paulo Portas foi o obreiro deste resultado. Só lhe faltou a página Sócrates ter sido virada e não fazer parte de um Parlamento cuja maioria continua à esquerda do PSD. Ora, se quanto às eleições legislativas é possível esmiuçarem-se as vitórias - porque, repito, excluindo o PS, que ganhou as eleições, todos os outros partidos cresceram aritmeticamente -, já nas Autárquicas a análise mais aconselhável a fazer seria, ao contrário, a de se esmiuçarem não as vitórias, mas, antes, as derrotas, já que, politicamente, todos os partidos as perderam. O PSD, porque perdeu inúmeras câmaras; o PS, porque não ficou à frente do PSD; a CDU, porque também perdeu câmaras; e o CDS e o Bloco de Esquerda, porque, apesar dos resultados obtidos quinze dias antes e do aumento do número de eleitores, se mantiveram na mesma. Tudo esmiuçado, a pergunta que fica é: estará o país melhor ou pior do que estava antes de todas estas eleições? A minha resposta é que nem pior nem melhor. “Apenas” adiado. Com a palavra “apenas” entre aspas...
1 comentário:
Ola, what's up amigos? :)
I will be glad to get some help at the beginning.
Thanks and good luck everyone! ;)
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