ARTIGO DE OPINIÃO (Ludgero Brioa)

Por um razoável conceito de desenvolvimento local

Se pensarmos numa dada comunidade, em que todos os seus membros tenham a ambição de contribuírem para a construção de uma sociedade mais evoluída e desenvolvida, cada um deverá em princípio dar o seu melhor, segundo a sua perspectiva que é única e individual, e assim contribuir para o desenvolvimento da sua comunidade. Nesta perspectiva, também cada um de nós pode reflectir sobre aquilo que queremos e apontarmos como modelo de desenvolvimento para o Concelho do Alandroal, na medida em que conhecemos o concelho, temos consciência dos seus potencias recursos endógenos, os estrangulamentos exógenos que o condicionam e as debilidades presentes, em termos humanos e naturais.
Naturalmente divergem as opiniões sobre o que realmente significa desenvolvimento, pelo que vou abordá-lo na perspectiva global de melhoria das condições de vida da comunidade local, neste caso englobando todo o concelho. Logicamente trata-se de uma perspectiva maleável e discutível, no bom sentido claro está.
Sejamos realistas e vejamos o que mais interessa ao cidadão anónimo do concelho; concerteza pode-se concordar que tudo o que possa facilitar o dia-a-dia do cidadão comum está em sintonia com a melhoria da sua qualidade de vida, e logicamente trazer desenvolvimento. Nesta perspectiva, e olhando aos últimos trinta e cinco anos em que a autarquia do Alandroal foi administrada por partidos de esquerda, primeiro afecta ao partido comunista e depois ao partido socialista, em muito melhorou e desenvolveu o Concelho do Alandroal, bem como as condições de vida do comum cidadão que aqui vive. Então, houve realmente desenvolvimento do nosso Concelho, e nisso não há qualquer dúvida e há que louvar tal facto.
Os factores que estiveram intrínsecos a esse desenvolvimento tanto se devem ao melhor aproveitamento de alguns dos recursos endógenos, traduzidos por um melhor aproveitamento de algumas determinadas riquezas locais, bem como ao incremento local de actividades geradoras de mais-valias (incorporação de valor acrescentado, em linguagem económica), bem como e sobretudo a um substancial e forte incremento de entrada de recursos exógenos, derivados sobretudo da entrada de divisas provenientes de activos provenientes de fora do Concelho e da notável expansão da assistência social à população não activa.
Por outro lado, o aumento da disponibilidade monetária favorecida pelas políticas governamentais, a integração de Portugal na União Europeia e a capitalização de fundos comunitários reforçaram substancialmente o fundo de maneio autárquico, traduzido por uma notável expansão de obras autárquicas, nomeadamente novos equipamentos sociais que foram surgindo um pouco por todo o Concelho (alguns com a devida comparticipação da administração central; outros nem tanto), alguns de discutível localização geográfica, quanto à necessidade de um desenvolvimento harmonioso e ajustado entre todas as freguesias do nosso Concelho.
Então, quais os estrangulamentos que podem ter levado os eleitores do Concelho por uma alternativa à administração autárquica de esquerda no Concelho, que vigorou praticamente durante todo o regime democrático e que soube traduzir e trazer o desenvolvimento ao Concelho?
Tive a oportunidade de estar presente como delegado numa das secções de voto no Concelho do Alandroal; tratou-se de uma secção onde votaram sobretudo pessoas de gerações mais novas, pautada pela quase ausência de pessoas de idade superior a cinquenta anos. O voto da secção mostrou-se desfavorável relativamente ao poder instalado na Câmara Municipal, assinalando uma expressa vontade de mudança.
Os resultados nessa secção podem levantar um pouco a necessidade de todos nós termos de reflectir e perspectivar o que devemos entender como modelo que as pessoas, hoje, querem para a melhoria das condições de vida e de desenvolvimento local. Assim, as obras materiais deixaram por si só de valer como “mais – valia” para a capitalização de votos junto do eleitorado, uma vez que foram apresentadas pelo anterior poder autárquico como “olhem a obra realizada; podem votar em nós porque fizemos obra”; curiosamente deduz-se junto das gerações mais novas que deixa de existir o sentimento de associar obra feita com melhores condições de vida. E esta conclusão quase que se pode extrapolar a outras secções de voto onde o eleitorado jovem era mais predominante.
Assim, a ideia de que à partida muitos surgiriam que obra feita implicava desenvolvimento e portanto cativação de votos, poder-se-á dar-se por perdida por outros factores neste ultimo acto eleitoral. Poder-se-á então questionar quais foram esses factores.
Então, se a obra feita e o desenvolvimento apontado pelo anterior executivo autárquico não foi positivamente sufragado no acto eleitoral, terão os cidadãos anónimos do Concelho uma noção distinta de modelo de desenvolvimento local?
Esta é uma questão muito importante que qualquer poder autárquico deverá ter sempre em linha de conta; a autarquia e os cidadãos residentes no Concelho não poderão navegar no tempo de costas voltadas. Não haverá sentido algum a autarquia continuar em investimentos, mais ou menos megalómanos para o Concelho, quando os mesmos nada dizem ao cidadão anónimo do Concelho, tanto em termos individuais como colectivamente.
Na próxima semana tentarei modelar e perspectivar aquilo que a maior parte do cidadão anónimo do Concelho deve dar mais importância como essencial à melhoria das condições de vida local e consequente desenvolvimento.

Estremoz,19 de Outubro de 2009
Ludgero Brioa