CORREIO RECEBIDO C/ PEDIDO DE DIVULGAÇÃO

Caro Sr. Francisco Manuel,

Venho por este meio solicitar a publicação no seu blog do texto em anexo, se for seu entendimento que o mesmo se enquadra nos seus critérios editoriais, como é natural.
Antecipadamente grato,
Com os melhores cumprimentos,
João Grilo

Caros(as)
amigos(as),


Após um longo período de reflexão, e depois de consultar a minha família e alguns amigos mais próximos, comuniquei ao Sr. João Nabais que não estou disponível para integrar a equipa com que este se apresentará às próximas eleições autárquicas no
concelho do Alandroal.

O meu trabalho na Autarquia, nos últimos tempos, tem sido acompanhado por uma sucessão de boatos, mal-entendidos, tentativas deliberadas de prejudicar a minha
imagem, quebras de lealdade política, manobras para limitar a minha acção e atentados à minha dignidade pessoal e de autarca que rondam o intolerável.

A tudo isto seria imune se sentisse hoje por este projecto o mesmo entusiasmo com
que inicialmente o abracei.
Mas a verdade é que tenho vindo a encontrar, a cada dia que passa, cada vez menos razões para continuar.
Todos temos um limite que não depende necessariamente de um acontecimento específico
para ser ultrapassado.
Não é obrigatório identificar a gota de água que fez transbordar o copo.
É antes uma longa sucessão de pequenas-grandes gotas que se vão acumulando e que
um dia nos fazem sentir que o que estamos a viver em nada se assemelha àquilo em que
acreditámos.

Com o tempo foram vindo ao de cima divergências de opinião, princípios, valores e
posturas entre mim e o Sr. João Nabais que se foram traduzindo numa progressiva dificuldade de trabalho conjunto.

Não pretendo estar certo em tudo o que faço ou em todas as minhas posições, sempre
mostrei grande abertura e vontade de colaboração e fui até ao ponto em que senti que
começava a afastar-me perigosamente dos caminhos que sempre trilhei ao longo do meu
percurso de vida.
Naturalmente, se não me identifico com o rumo que o líder da equipa imprime à sua
acção, entendo que sou eu que estou a mais e que devo sair.

Decidi integrar a equipa do Sr. João Nabais como número dois e, após a eleição, como
Vice-Presidente, por acreditar que iria fazer parte de uma equipa empenhada e dinâmica, interessada em promover o desenvolvimento sustentado do concelho acima de
tudo e interessada em trabalhar todos os dias para resolver os problemas dos seus
munícipes – razão única da sua existência enquanto tal.
Envolvi-me num projecto a meio sem questionar o que estava para trás.
Fi-lo com a certeza de que apesar de termos partido tarde, ainda tínhamos tempo para
recuperar atrasos estruturais herdados de sempre, captar investimento, criar emprego, fixar populações, em resumo, operar a revolução que o Alandroal ambicionava.
E tudo isto num momento em que esta tarefa parecia não só possível mas obrigatória
de levar a cabo, tal era a dinâmica de mudança que se tinha conseguido promover no
concelho, tal era o capital de esperança que todos depositavam em nós.
Não me podia ter desiludido mais!
As condições revelaram-se todas favoráveis, como previsto, mas os resultados não.
Não sou um político, sou um professor.
Fiz uma pausa na minha carreira para, com a humildade necessária, vir servir o Alandroal o melhor que sei e posso.
Estou pronto para voltar a essa actividade a qualquer momento.
Não tenho dúvidas de que esta é a forma mais livre de estar na política local.
É, pelo menos, a que melhor garante que os interesses dos munícipes e do Município
não começam a ficar para trás em relação a interesses pessoais ou esquecidos na construção de uma “carreira política”.
Acredito que num estado democrático, o desempenho de um cargo político corresponde
à mais elevada honra associada ao exercício da cidadania.
Somos investidos de poder para servir o outro acima de nós próprios. Sempre senti
o peso dessa responsabilidade.
Acredito na política autárquica como um exercício transparente, de proximidade, de
frontalidade, de respeito pelo outro e de disponibilidade para ouvir.
Acredito que associando tudo isto a um profundo sentido de justiça e uma boa dose de
bom-senso todos os problemas podem ser resolvidos.
Não tenho, até hoje, um único diferendo com um munícipe que não tenha sido sanado.

Agradeço profundamente toda a colaboração, profissionalismo, ajuda e amizade que sempre recebi dos colaboradores mais directos, dos restantes funcionários da
Autarquia e de todos os munícipes com quem contactei no desenvolvimento do meu
trabalho.
Foi sem dúvida devido a isso que esta decisão que hoje vos comunico não foi tomada
mais cedo.
Esse contacto deu-me também a certeza de que, ao contrário do que alguns querem afirmar, o concelho do Alandroal está cheio de gente séria, trabalhadora e responsável que apenas procura, no seu dia-a-dia, uma vida melhor para si e para
os seus. E esperam apenas que os seus dirigentes políticos os ajudem nesse caminho.
Levarei o meu mandato até ao fim – nas condições que me forem
permitidas – uma vez que foi esse o compromisso que assumi convosco e porque é com
todos vós que está, e sempre esteve, a minha mais profunda lealdade.

Alandroal, 14 de Fevereiro de 2009
João Grilo