quinta-feira, 23 de outubro de 2008

PARA MEMÓRIA FUTURA

VIDE INTRODUÇÃO EM POSTAGENS ANTERIORES

Baptista Bastos : “a memória é a última coisa a morrer, não a esperança”

Miguel Torga :
“ter um destino é não caber no berço
Onde o corpo nasceu
É transpor as fronteiras uma a uma
E morrer sem nenhuma
(…)
Sem ver se foi vencido ou se venceu”


A ESPLANADA

Ainda hoje a tenho atravessada.
Tanto trabalho e se não está na mesma pouco falta.
A esplanada foi (não no meu tempo, mas quase) um local onde a gente snob da altura se reunia nas noites de Verão. Nela se faziam grandes bailes, patinagem artística, se projectava cinema e outros eventos da época.
A mesma era pertença das “forças ricas” da terra e por elas mandada construir: Doutor Barrento, Doutor Xavier e Senhor Joaquim Martins.
Do meu tempo e por iniciativa da Dona Maria Helena ainda tive o privilégio de assistir a Teatros, Bailes (com a orquestra Bass), e patinagem artística.
Aos poucos e já no meu tempo de estudante no Diogo Lopes de Sequeira a mesma foi-se deteriorando até se tornar num local abandonado onde o mato e a porcaria abundavam.
Após o regresso do Ultramar e nas ideias do “Grupo” (Eu – Luís Balsante – Zé Kagano) havia o sonho de fazer renascer a Esplanada.
Os contactos foram efectuados e de imediato tivemos o consentimento do Dr. Barrento e do Dr. Xavier. Só o Senhor Joaquim Martins se mostrou sempre renitente e por mais pedidos formulados nunca mostrou abertura para que se processasse o restauro da Esplanada.
Talvez não contasse que se iria dar o 25 de Abril.
Após esta data e face ás acções que daí advieram, e perante o “ultimato” ou cede ou ocupamos, o Sr. Martins não teve outro remédio senão ceder.
Foi talvez um dos momentos mais altos, no que toca a união, que se viveram no Alandroal.
Em pleno PREC, com todos os Partidos a digladiarem-se, souberam os Alandroalenses unirem-se, trabalhar em conjunto e fazer das ruínas uma obra nova.
Ainda recordo o primeiro dia de trabalho colectivo. Foram muitos que munidos de boa vontade se deitaram ás silvas, à limpeza, à caiança… recordo o trabalho do Domingos Ameixa que sozinho limpou a fossa, da alvenaria do Janga, do Desidério e tantos outros.
De realçar a boa vontade do Luís que avançou com “algum” para aquisição do primeiro material. Do Zé que colocou o trabalho e a mão-de-obra no que respeita ao seu ofício.
Mas não nasceu com sorte.
Quando tudo pronto (inclusive um parque infantil) – na inauguração o Né teve a infeliz ideia de atribuir o sucesso ao Partido da sua simpatia, o que melindrou os que a tal partido não pertenciam. Ainda por cima nessa tarde caiu uma trovoada, que valha-me Deus, até a luz publica desapareceu, o que motivou que nem o baile de inauguração se realizasse, esperança da recuperação de algum dinheirinho. E o que eu arrisquei em altas velocidades com o Zé Kagano caminho de Vila Viçosa e Pardais a tentar que o Lourinhã remediasse a avaria.
Mas a Esplanada ainda continuou a desempenhar o papel com que sempre sonhámos. Fizeram-se bons bailes, houve momentos de cultura (teatro, o orfeão Tomás Alcaide), cinema e acima de tudo futebol de salão. Já lá vão mais de 25 anos, mas, e graças ao Sr. Ramalho foi lá que se realizou o primeiro torneio de futebol de salão que conseguia levar à esplanada senão toda, quase toda a população do Alandroal. Grandes noites de emoção ali se viveram.
Aos poucos vi-me sozinho… todos foram desistindo… e agora o que recordo foi uma tentativa desesperada na qual fui acompanhado pelo saudoso amigo Zé Colunas de tentar abrir o bar. Sem sucesso… claro, pois os melhores fregueses éramos nós.
Não posso deixar de nesta crónica deixar o meu maior lamento:
Quando me vi sozinho e não me restando outra alternativa entreguei as chaves da Esplanada na Câmara. Foi-me prometido na altura que na mesma iria ser erguida uma Sede para o Juventude Sport Alandroalense.
Hoje passo pela Esplanada e vejo-a cada vez mais abandonada.
Pergunto: de quem é a Esplanada? Que projectos existem para tal espaço?
Xico Manel

4 comentários:

Anónimo disse...

Gostaria de saber se estou enganado? Eu lembro-me perfeitamente da inauguração da esplanada, por isso srº Xico Manel, por acaso não se está esquecer do Alberto Ramalho? O srº não foi, mas foi com ele e o Luis que fomos aos pássaros ao monte do Palma e eles ás rãs a Juromenha,para a noite da inauguração, por vezes existem lapso de memória espero eu ou não?

francisco tátá disse...

Tem toda a razão e por este lapso de memória peço muita desculpa, principalmente ao Alberto. Foi também um dos que muito trabalhou para a restauração da Esplanada.
Pela conversa deves ser um dos amigos que andaram nestas "andaças". Diz lá quem és porra...
Essa dos pássaros e das rãs tem muito que se lhe diga, pois vimo-nos na contingência de ser presos pelas forças revolucionárias. Já agora lembras-te como terminou a noite no Monte do Palma?
Que belo paio! e como soube bem o gaspacho às 3 da matina.
Porra... como é que eu me esqueci do Alberto...
Sejas quem for um grande abraço
Chico

Anónimo disse...

Amigo Chico, apesar de longe, acompanho regularmente as noticias do blog,e essa noite para mim é inesquecível, pois enquanto esperávamos que chegassem das rãs, apareceu o cabo Belém e o Sr.Palma, que saíram do jipe com a G3 apontada a nós e ainda por cima não acreditavam em nós. E quem éramos nós? Joaquim Valério, Manuel Bexiga e eu Basílio, matamos 130 pardais nas oliveiras do monte e horta de Cascalhais.
Um grande abráço
Basílio

francisco tátá disse...

Foi mesmo assim. Um grande abraço para ti.
Foi muito bom saber notícias tuas
Xico