quarta-feira, 8 de novembro de 2006

CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Uma amabilidade da :

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PARA LÊR COM ATENÇÃO e ... MEDITAR

Crónica de 7/11/2006
Domingos Cordeiro

Quarta, 08 Novembro 2006
Dada a enorme contestação que vem sendo movida pelo Presidente do Governo Regional da Madeira à proposta da Lei de Finanças Regionais e que prevê, para 2007, um corte nas transferências orçamentais para região na ordem dos 45 milhões de euros, foi com alguma expectativa que me dispus a seguir a entrevista realizada no passado dia 2, na RPT1, a Alberto João Jardim. Esperava eu, que Alberto João Jardim, num acto de contrição de última hora, aproveitasse o momento para reconhecer que a proposta do Governo assenta, pela primeira vez, desde os primórdios da autonomia, em critérios de justiça equitativa o que conduz, necessariamente, a que a Madeira, de forma solidária com o todo nacional, aceite receber um pouco menos para que outras regiões do Pais, menos desenvolvidas, possam receber um pouco mais.
Não foi, contudo, o que aconteceu.
Preferiu, no seu estilo truculento e, por vezes malcriado, debitar uma série de números sobre a economia da Região, que sabia não poderem ser contraditados;
Afirmou que é o Continente que está em divida para com a Madeira, indo ao ponto de, anedoticamente, justificar esse facto com a produção de açúcar na ilha, da qual o Continente teria, supostamente, beneficiado sem dar a devida contrapartida, quando é certo que tal actividade acabou há mais de 200 anos;
Atacou o Governo, acusando-o de, com esta Lei, estar a mover o maior ataque de sempre às autonomias regionais.
A par, e de uma forma absolutamente deselegante, acusou o Governo de estar a “retirar-lhe comida do prato” para a dar ao Açorianos, tudo porque a nova Lei prevê, para 2007, um aumento de transferências orçamentais para os Açores na ordem dos 13 milhões de euros.
O que Alberto João Jardim não disse mas todos os Portugueses sabem é que, para ele, o princípio da solidariedade e da coesão nacional só se conjuga num sentido: do Continente para a Madeira.
O que Alberto João Jardim não disse, mas todos os Portugueses sabem, é que se a Madeira se desenvolveu, como se desenvolveu, ao ponto de ser hoje a segunda região mais rica do Pais isso fica a dever-se, em muito, à permanente chantagem com o fantasma independentista que, segundas figuras, suas próximas, não se têm cansado de agitar.
O que os Portugueses não esquecem e Alberto João Jardim não referiu é que usou e abusou de privilégios que outras regiões não puderam ter, traduzidos na entrega, por parte do Governo da Republica, dos famosos “cheques”.
O que os Portugueses não esquecem é que Alberto João Jardim é a mesmíssima pessoa que, referindo-se ao actual Presidente da Republica o tratou por Sr. Silva, sendo que agora para ele se vira no sentido de intervir a propósito de uma hipotética inconstitucionalidade da Lei de Finanças Regionais;
O que os Portugueses não esquecem é que Alberto João Jardim é a mesmíssima pessoa que, ainda no passado ano, tratava o líder do PSP/Nacional por Sr. Mendes e o considerava «personna non grata» levando a que, pela primeira vez, o líder nacional deste partido não tenha estado presente na festa anual do PSD/Madeira.
O que os Portugueses não esquecem e percebem mal é que, depois de tudo isto, o Dr. Marques Mendes tenha ido, este fim-de-semana, à Madeira para prestar homenagem a Alberto João Jardim e para ouvir deste que está disponível para ser seu motorista se ele chegar a Primeiro-ministro.
Com a decisão que tomou, e pelo descrédito que a mesma encerra, dificilmente o líder nacional do PSD poderá aspirar a tal desempenho.
É que, como diz o povo: “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és!”

Crónica de 8/11/2006
Hélder Rebocho

Quarta, 08 Novembro 2006
O endividamento das famílias Portuguesas é uma questão que se assume nos nossos dias como um problema de interesse nacional dadas as consequências que pode vir a acarretar num futuro próximo para os cidadãos e para a economia do país. No entanto temos que distinguir dentro do âmbito desta questão dois aspectos distintos, porque uma coisa é o endividamento e outra o excesso de endividamento e é este que começa a ser, realmente preocupante, tendo como consequência a crescente incapacidade de muitas famílias em suportar os custos inerentes ao pagamento dos empréstimos contraídos.
A génese do problema surgiu no início dos anos 90 com a liberalização do sistema financeiro, que permitiu a conjugação da ânsia consumista dos cidadãos, determinada pela diversidade de estímulos ao consumo de bens e serviços, com a ambição do lucro das entidades bancárias, ditada pela concorrência e por novos conceitos comerciais.
Gerou-se uma dinâmica de consumo fácil com facilitismo na concessão de crédito, que rapidamente descambou no endividamento desenfreado e cego que agora começa a dar claros sinais de alarme.
Hoje o problema já não atinge só as classes com menor capacidade financeira, o fenómeno vai-se manifestando cada vez mais em famílias da classe média alta, que não obstante os seus rendimentos vêem o orçamento familiar apresentar saldo negativo no final do mês.
É evidente que o crédito é uma operação de risco, porque ninguém está a coberto do desemprego, da doença ou da perda do poder de compra.
No entanto deve ser encarado como um risco calculado e planificado.
Significa isto que o endividamento das famílias em si não pode ser qualificado como algo de negativo ou problemático, porque é necessário que se compreenda que o crédito tem efeitos positivos no bem estar e qualidade de vida dos cidadãos.
Verdadeiramente problemático é o recurso ao crédito por tudo e por nada, é a ligeireza com que se pede e concede dinheiro para aquisição de bens supérfulos, tantas vezes desnecessários.
Hoje contraem-se empréstimos para compra de um simples serviço de chá, de vestuário e até para gozo de férias, entre outros, que para não ser exaustivo me abstenho de enumerar.
A mensagem apelativa da banca e o desnorte consumista dos cidadãos, são duas premissas que conduzem, normalmente, a uma conclusão - o recurso instintivo ao crédito.
O raciocínio que lhe está na origem é muito simples, o capital não é muito a prestação é insignificante e em muitos casos só se começa a pagar seis meses ou um ano depois.
O problema não é essa prestação, é a sua acumulação com as outras decorrentes de créditos anteriores e depois com as de créditos posteriores, gerando um efeito “bola de neve” que a determinada altura se torna incontrolável.
O endividamento é positivo se estiver contido dentro de níveis moderados e planificados, sempre proporcionais à capacidade financeira de cada um.
Existem bens que pela sua durabilidade, natureza e funcionalidade justificam o recurso ao crédito, sem o qual, não estariam ao alcance da maioria dos Portugueses, como sejam, os imóveis para habitação permanente ou não, os instrumentos de trabalho ou os automóveis, entre outros.
Porém, é muitas vezes nos chamados micro créditos acumulados que o verdadeiro problema começa a germinar, porque rapidamente e em conjunto se transformam num mega crédito insustentável.
A responsabilidade por esta dinâmica pertence tanto aos cidadãos, que a bem ou a mal, terão que reaprender a controlar os estímulos exteriores e a dizer não, como à banca que os recruta a todo o custo para engrossar as fileiras dos seus devedores, geradora de lucro.
É urgente pôr termo ao endividamento descontrolado, porque aquilo que deveria representar um factor de dinamização da economia e de melhoria das condições sociais está a produzir o efeito inverso, transformando-se num elemento de destabilização económica e de agravamento das condições sociais de muitos agregados familiares.

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