segunda-feira, 6 de novembro de 2006

CRÓNICAS DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

dianafm_1.jpg

O Ensino
José Faustino

Segunda, 06 Novembro 2006
No meu tempo de escola os pais recomendavam aos professores: “se o meu filho não se portar bem, chegue-lhe” e muitos professores não se faziam rogados. No secundário, apanhei com aulas do nascer ao por do sol, aulas práticas de quatro horas, enfim um exagero.
Com o vinte cinco de Abril pensei que tudo se modificaria para melhor.
Decorridos trinta anos verifico que, de facto, tudo se modificou, mas infelizmente para o extremo oposto e para pior.
Talvez no meu tempo se exagerasse um pouco, por vezes, em vez de respeito havia medo, hoje é ao contrário, são os professores que têm medo dos alunos e dos seus pais, não sendo raros os casos de agressão física.
Dantes, a última coisa que qualquer criança queria era que o pai soubesse que tinha levado umas reguadas, hoje não há régua e à mais pequena ameaça vão imediatamente fazer queixas aos papás.
Ao longo destes mais de trinta anos de democracia já se fizeram não sei quantas reformas com resultados péssimos, a grande maioria dos jovens sabem cada vez menos. Dizer que sabem outras coisas não justifica a sua fraca preparação. Saber trabalhar com o computador não desculpa que não saibam a tabuada nem fazer contas, saber usar as diversas plataformas de multimédia não desculpa que não saibam interpretar um texto.
Há muitas teorias sobre a escola e o ensino, para mim que não sou especialista sei uma coisa muito simples: a escola serve para ensinar, é apenas isso que se pretende.
Foi possível ir iludindo o estado do ensino durante muito tempo, mas hoje já toda a gente percebeu que estamos no mau caminho. Se a ideia era criar um ensino mais igualitário onde os alunos fossem todos iguais, também aí se falhou o objectivo, pois se antigamente havia diferenças, nessa altura entre ricos e pobres, hoje as diferenças ainda são piores, para além desta, existem outras que materializam o pior do ensino em Portugal, refiro-me ao exagerado número do insucesso escolar e ao fosso existente entre a média e a minoria de alunos excelentes que felizmente, e apesar de tudo, ainda existem.
Perante o estado do ensino, em vez de se tomarem medidas de fundo e resolver definitivamente o problema, não senhor, prefere-se arranjar culpados ou pior do que isso: “bodes expiatórios”.
Culpado há muitos, desde os políticos dos vários governos até aos pais e encarregados de educação, passando pelos sindicatos e professores, ninguém está isento de culpa. Porém, o Governo elegeu os professores como únicos culpados de todos os males. Não querem trabalhar, estão mal preparados, enfim, gente do pior.
Perante a situação caótica do ensino, era só o que nos faltava, era a total desautorização dos professores perante o país e, especialmente, perante os alunos.
Chegou-se ao ponto de propor-se que os pais dos alunos avaliassem o desempenho dos professores. Bonito! Porque não pôr os doentes a avaliarem os médicos, ou os arguidos a avaliarem os juízes?
Concordo que os pais tenham liberdade de escolher as escolas dos seus filhos, mas avaliar os professores não faz qualquer sentido, não têm competência para isso.
O que o Governo devia fazer era dignificar a profissão de professor e fazer com que sejam respeitados pelos seus alunos. Se estão mal preparados então preparem-nos melhor.
O que houver a modificar que se faça sem “espalha-fato” e se houver alguma repreensão a fazer aos professores, e muitas haverá, que isso seja feito na reserva dos gabinetes do Ministério e não na praça pública.
Pelo mesmo motivo que na tropa um oficial não repreende um sargento na frente dos soldados, no ensino, o Ministério não pode repreender os professores na frente dos alunos, a isso chama-se respeito ou falta dele, só é respeitado quem se dá ao respeito.
A falta de respeito e de referências sociais leva-nos, seguramente, àquilo que todos sabemos e que, infelizmente, também já conhecemos.
É difícil chegar a ser pessoa

Sem comentários: